A chegada da Helena

Ja tinha alguns dias que me sentia casada, pra mim toda a gravidez não foi difícil, tive claro alguns dias mais down, mas no geral eu curti tanto aquela barriga ! Entretanto aquelas últimas semanas estavam beem arrastastadas, dores nas costas, pernas e pés inchados, muito calor… eu só queria parir !!!!
Já vinha comendo minhas tâmaras desde 36 semanas, homeopatia desde 37, e quando completei 39 fui correndo pra acupuntura! Todo mundo dizia .. “de hoje não passa, sua barriga tá muito baixa” … e.. nada !
Com a ansiedade aumentando e 39 semanas e 6 dias, na quinta feira decidi ir no spa com Donald, meu marido, que já estava de licença do trabalho. Foi um dia delicioso, curtimos muito ! Varias termas de água quentinha, comidinha muito boa ! Tempo de relaxar e enfim, conseguir curtir a barriga mais uma vez❤️
Chegamos em casa por volta de 6h30pm 7h30pm tomei um banho, jantamos e eu comecei a assistir um filme, já sentada na minha bola de pilates, parceira desde os primórdios do 5 mês de gestação hahaha.
Logo as primeiras contrações chegaram. Nada muito intenso, uma cólica menstrual.. fiquei em dúvida até. Decidi sair pra dar uma volta e respirar um pouco. Nas quintas à rua fica cheia aqui perto de casa, tinha muita gente curtindo os terraços e tentando fugir um pouco do calor. Acabei encontrando umas duas pessoas conhecidas que claro, perguntaram, “e a bebê ? Quando sai ? “ Hehehe .. eu rindo respondi “ quem sabe ? Talvez hoje?! “

Quando voltei pra casa, tomei outro banho e as contrações aumentaram, e assim por diante minha quinta feira noite e madrugada seguiram, contrações aumentando mas que não tinham ritmo. Baixei um aplicativo para acompanhar as contrações. Isso só aumentou a ansiedade, a cada 3 contrações ritmadas o app nos mandava ir pro hospital ! Mas eu sabia que NÃO era a hora.
Donald, que não estava no meu corpo pra sentir, viu sua angústia aumentando, ele queria ir pro hospital, ligar pra Thainy pedir ajuda, queria escutar que tava tudo bem.

Sendo assim, as 2h00am da sexta feira 19/08 Donald pegou o telefone e ligou pra Thainy, que prontamente respondeu e o acalmou : “Donald, ela está bem, vai dormir e descansar, ela vai precisar de você mais tarde”.
A partir desse momento Donald já não estava mais lá , a madrugada virou manhã, e as contrações foram perdendo completamente o ritmo, vindo de 3 em 3 depois 5-5, 10-10, 16-16 minutos.. e assim seguiu toda minha sexta feira.

Thainy mandava mensagem ao longo do dia pra avaliar como eu estava me sentindo.
Como nesta sexta feira eu completava 40 semanas, à tarde por volta de 14h30 eu tinha uma consulta de rotina no Cocon, uma casa de parto dentro do hospital Erasme em Bruxelas.
Quando cheguei lá, Michelle sage-femme me recebeu e viu que eu estava super cansada, eu contei como havia passado a noite e o dia sem dormir, com contrações fortes e sem ritmo.
Ela sugeriu o toque, e eu aceitei. Quando medimos vi que meu colo estava completamente apagado, o que era ótimo, mas eu só tinha 1 cm de dilatação.

Voltamos para casa, Donald e eu, e tentei descansar. Missão quase que impossível já que o tempo máximo sem contrações era 16 minutos. Ao final da tarde, as contrações recomeçaram a pegar ritmo, e por volta de 19h00 estavam de 5 em 5 minutos.

Liguei pra Thai, que logo chegou em casa.
Quando ela chegou, eu estava no banho com a minha bola. Sai do banho, conversamos um pouco, e decidi que queria tentar algo a mais, um último puxão pra induzir de forma natural e não ficar mais uma noite em claro com pródomos.

Assim sendo, decisão tomada, preparei o shake de óleo de ricino com pasta de amendoim.
Tomei a poção entre uma contração e outra, e depois de 30 minutos meu estômago queria uma trégua.
Comecei a vomitar tudo.. jatos e jatos… foi horrível, e só me senti ainda mais cansada e frustrada.

Não existe fórmula mágica, ainda mais pra primeiro filho. A fórmula é paciência… talvez uma última preparação pra maternidade que está por vir…

Então continuamos assim, ao longo da noite em casa, Thainy e eu na sala, e Donald que estava cansado do dia e da noite mal dormida, foi descansar no quarto.
Depois de muita paciência, as contrações ficaram mais e mais fortes, até que por volta da 1h00am do sábado comecei a vomitar mais uma vez. Agora não era mais o shake, era de dor..Muita dor..

Depois disso fiquei com medo de não conseguir aguentar mais em casa, já sabendo que tinha o caminho até o hospital no carro. Meu maior medo era, subir no carro com contrações fortes e perder o ritmo mais uma vez.

Thainy me perguntou se seu queria ir pro hospital e eu disse sim. Acordei o Donald, pegamos o que faltava e fomos pro hospital.
Durante os 20 minutos de trajeto tive 3 contrações, elas tinham perdido um pouco o ritmo, mas a dor era intensa.

Já no hospital, entramos no Cocon as 2h00am e fomos super bem recebidos pela Laure, sage femme, em um ambiente calmo e tranquilo, com muito suporte e carinho e respeito. Era o que eu sonhei desde o começo, lá eu me sentia segura.

Quando chegamos eu passei por outro exame de toque, mas não me falaram quantos centímetros. Só me disseram que tudo estava avançando muito bem, e que era pra eu ser confiante, minha bebê ia logo estar comigo.

O tempo foi passando, entre uma contração e outra, diferente posições, rebozo, banheira, respirações. Eu não estava sozinha, sempre tinha pelo menos o Donald ou Thainy ou a sage femme ou todos juntos ao meu lado. Muito apoio, mensagens positivas e acolhimento.

O sol nasceu, e Laure chegou ao final do seu turno, dando lugar à outra sage femme Anne Laure e Helene estagiária.
Mais uma vez, recebi muito amor e suporte durante e entre cada contração.

O tempo foi passando, cada vez mais rápido, e quando me dei conta já era meio
dia. As contrações estavam muito muito dolorosas, eu já não encontrava mais posição, e toda vez que entrava na banheira, elas perdiam o ritmo.

Após outro exame de toque, sugeriram o rompimento da bolsa. Eu pedi pra
saber quantos centímetros eu estava e como havia evoluído desde então. Anne Laure me disse que eu tinha entrado com 3 cm as 2am, e que naquele momento ao meio dia, eu tinha 5 cm.
A bebê não estava encaixada, e a pressão no colo não era suficiente pra ajudar ela a descer.

Eu sabia que o rompimento da bolsa ia aumentar a intensidade da dor, e lá reconheci meu limite. Eu estava muito cansada, não só pela dor, mas pela falta de descanso desde quinta-feira.
Eu queria respirar, mas entre as contrações eu só pensava que logo outra contração chegaria, já não conseguia mas me concentrar pra administrar meus pensamentos.

Nesse momento, pedi a peridural.

Thainy queria ter certeza que eu estava consciente, que não queria tentar mais.
Eu enumerei todas as possíveis consequências da peridural. Eu sabia, eu estava consciente.
Uma peridural pode diminuir o ritmo das contrações, sem sentir as pernas e só deitada na cama. Com a peridural a hora do puxo tende a demorar mais, já que normalmente as contrações não são sentidas e a mulher não sabe a hora certa de fazer força. Além do mais, a peridural pode resultar em outras intervenções, como uso da oxitocina sintetica, essa daí pode aumentar o ritmo cardíaco do bebê, e um ritmo insatisfatório pode resultar em uma cesária de emergência.

Eu sabia de tudo isso, repeti tudo isso pra Thainy, mas estava disposta a tentar e consciente da minha escolha já que reconhecia também que havia chegado ao meu limite tentando um parto natural, e tudo bem.

Nesta hora ao meio dia, Anne Laure foi providenciar a transferência do Cocon pra sala de parto classica, onde a peridural está disponível.

Depois de alguns minutos a cadeira de rodas chegou, o tempo todo Anne Laure, sage femme do Cocon, Helene a estagiária, Thainy e Donald estavam ao meu lado. A dor era tanta que fui de 4 na cadeira de rodas.

Depois de duas horas e meia o anestesia chegou a sala. Tinha muito barulho, gente falando e apito de máquina, mas nesse momento a Anne Laure segurou minha mão e disse que tava comigo, que não ia me deixar sozinha até a peridural ser colocada e ia explicar tudo que tavam fazendo comigo.

Dito e feito. Ela ficou lá durante toda a aplicação, segurando minha mão, e durante a aplicação da injeção tive duas contrações. Essa hora foi difícil, não podia mexer pois estava no meio da aplicação da anestesia, mas toda a equipe me dava tempo de respirar, a contração passar para daí então continuar o processo.

Uma vez a anestesia dada, comecei a perder o sentido da perna direita, mas o da esquerda ainda estava lá. Ainda sentida as contrações do lado esquerdo, mas com muito menos intensidade que sem a anestesia. Diria que algo como uma cólica menstrual forte… algo como as primeiras contrações que senti na quinta feira.

Essa hora, fizeram outra vez o toque, estava com quase 6 cm. E ai então, decidimos romper a bolsa.

Não teve muito líquido que saiu, a sage femme disse que apesar de não estar encaixada, a Helena estava como uma “tampa” impedindo a saída do líquido.

Desse ponto eu pedi pra continuar ainda sem oxitocina, queria tentar dilatar o máximo possível pelo trabalho único do meu corpo. Assim continuei, de 14h30 até 17h00.
Como conseguia sentir a perna esquerda, a Thainy e Donald me ajudaram a mudar de posição ali mesmo, em cima da cama. Fiquei de quatro, abraçada com um travesseiro bem alto, conseguia subir e dobrar uma perna por vez, fizemos rebozo, comecei a fazer expressão manual (ordenha) … tudo isso pra ajudar na dilatação.
Lembro também que durante esse processo, eu fiquei com Thainy, Donald e a sage femme da sala de parto vinha me checar esporadicamente, assim as sage femmes do Cocon voltaram para o Cocon, mas não esqueceram de mim.
Antes de irem embora depois do turno, elas voltaram na sala de parto ver como eu estava, me dar mais palavras de incentivo e carinho.

Enfim, por volta de 17h00 eu estava com 7cm, e desse ponto em diante decidimos colocar a oxitocina.

Como durante a peridural não me deixaram comer, mas só beber água, eu tava só pensando em comida o tempo todo! 😡 La pra umas 18h30 decidimos pedir hambúrguer. Eu falei, bem se não comer hoje, como amanhã !
E lá se foram três pedidos de x-picanhas bem completos!!!! Eu pensei que Donald e Thai iam jantar sem mim, e eu comeria no outro dia…

Por volta de 19h00 eu senti uma vontade enooooormeeeee de fazer número 2 🙈🙈🙈
A Thainy me disse “quando a vontade vier, pode tentar por pra fora, se for côcô a gente limpa e segue o baile”
E assim eu fiz, logo a sage femme chegou e eu disse que queria fazer n.2. Ela veio me examinar na hora.

A cabecinha já estava lá!!!!!!!

Logo outra sage femme chegou e pediram pra eu empurrar quando a vontade viesse, no meu tempo.
Thainy sempre me lembrando da respiração e de respeitar meu corpo, ir no meu tempo, e assim seguimos.

Depois de 3 “vontades” de empurrar, ela saiu! Sem nenhuma laceração ! ❤️
Perfeita, direto pro meu colo, procurando o mama! E lá mesmo tomou seu primeiro tetê! Ainda com a placenta dentro de mim!

Logo a placenta saiu, e Helena continuou no meu colo por mais de 1h30.
A melhor hora da minha vida ! Eu e Donald só sabíamos olhar pra ela sem acreditar que enfim ela estava lá !

Essa é a minha história de parto, e ela foi a história perfeita e que se encaixa comigo.
Perfeita em cada contração, e cada escolha.
Me senti amada, respeitada e acolhida durante todo o processo.
Não fui coagida a tomar nenhuma decisão e estava consciente de tudo que podia acontecer e estava acontecendo.

Com toda certeza essa história só é tão bonita graças às pessoas que estavam ao meu lado. Toda equipe do Cocon, a equipe de sage femme do hospital Erasme, minha doula amada trazida dos céus Thainy, e mon Cheri Donald ❤️

Escolheria mil vezes reviver essa mesma história ! Passando pelas mesmas etapas ! E para todas que tiverem oportunidade, recomendo muito o hospital Erasme e com certeza o Cocon, e ainda mais minha doula amada!

Obs: pra quem ainda está se perguntando, “e o hambúrguer ? “ – funny fact: o entregador do hambúrguer tocou o telefone bem na hora que eu estava empurrando, e lá nosso hambúrguer chegou juntinho com minha bebê! O hambúrguer também estava uma delícia 🤤!!!!

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